Deixem que ele seja

Recolham as vossas estórias - laudas pré-pós-armadas.

Enterrem-nas, nos mais profundo da vossa lembrança – que lá fiquem geladas.

Deixem respirar a ideia da terra homem.

Espalhem nos mares que enlouqueceram,
os pergaminhos engomados de ouro velho.

Recolham o sangue puro que derreteram
e,
refaçam os desfeitos, esvaziados de atrevimento,
de aragem, de selo.
Lavem todas as cores maculadas
e,
repintem os corpos cozidos no sal da vossa cupidez.

Deixem que tudo seja cor, cor e cor
e,
se mais não houvera, ainda cor.
Aquela cor natural que designa o homem encharcado de liberdade.

Não cor de cor, nem cor de terra.
Não cor de raça, mas cor da animalidade magoada pelos peitos estocados pelas vossas bandeiras.

Não fico pasmado diante dos vossos feitos
nem me interessam as vossas fronteiras.

- Gosto ou desgosto da vossa cultura
Adoro ou detesto a vossa língua
Mais nunca morrerei de míngua
Nem mais aceitarei qualquer tortura –

Recolham os vossos feitos – estou disposto a vos absolver
Soltem o homem agora, não mais tarde,
agora.

Deixando-o viver sem cor, na cor que ele desejar,
na terra dele.

Deixem que ele seja...

Desfaçam estórias e geografias.

Antanho Esteve Calado

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