tag:blogger.com,1999:blog-7646011692611909222024-03-13T10:29:33.938-07:00Folha - IV - Assinatura: Antanho Esteve Calado" Fernando Oliveira "
Se perderes o teu amor. Não procures as razões. Procura o teu amor. É ele(a) que as tem. Antanho Esteve Caladofernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.comBlogger14125tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-85042673963753748842012-05-04T14:01:00.000-07:002012-04-05T09:07:25.759-07:00Ampla Bagana e Piranha os deuses dos irracionaisO irracional tem os seus próprios deuses<br />
Nunca se deu com aqueles dos racionais<br />
Jamais se viu uma girafa fumar ao lado dum sapo <br />
Nem um crocodilo tomar uma simples hóstia<br />
Dalgum barbeiro colecionador de peles<br />
Ou dum barítono assobiador nas horas vagas<br />
Menos ainda uma cobra ser caixa de hipermercado. <br />
Reza a empeitica antropologia animalesca<br />
Que a deusa (Ampla) Barriga de todos os bichos<br />
Teria destronado o seu marido e deus ( Bagana)<br />
Ajudada por um exército de vermelhos piscos<br />
Bagana vive no exilio com pensão principesca<br />
Rodeado de borboletas de ouro-afogueadas<br />
A que chama o fino e o louco racional de – inferno.<br />
O formigueiro é o paraíso de todo irracional<br />
Tudo o que foi mesmo tendo sido elefante<br />
Na morte se transforma em formiguinha<br />
Só a Leoa com seu porte super-elegante<br />
Transforma-se na mais angélica rainha - Ampla. <br />
Todo o bicho tem direito à sua própria filosofia<br />
Diz a lenda da bicharia na constituição que não fere<br />
Escrita nos ares nas terras e nos mares.<br />
Que mesmo o mais incrédulo lacrau <br />
Tem lugar cativo ao lado da deusa - Ampla<br />
Salvo aqueles que foram demais carniceiros<br />
Como o Urubu a Hiena e algum tipo de lagarto<br />
Vão para o reino do destituído Bagana<br />
Com pensão mínima e rodeados de mosquitos.<br />
As baleias os tubarões os caranguejos e as ostras<br />
Formam o quarteto que gerem o terceiro reino<br />
Aquele que o racional considera de purgatório.<br />
É comandado pela deusa-princesa (Piranha)<br />
Filha varoa de Ampla e dum deus ao deus-dará<br />
O reino é guardado por um exército de sardinhas<br />
E é para lá que vão os menos-bons e os mais-ou-menos<br />
Até que fiquem curados como o bacalhau.<br />
Que se saiba não há religiões fixas nem doações a crédito<br />
Não há dissenções nem capelas secundárias <br />
Não há castigos além daqueles acima descritos<br />
Não há rezas mezinhas ou ameaças de extinção<br />
Apenas Ampla Bagana e Piranha<br />
Nos seus respectivos reinos.<br />
<br />
Antanho Esteve Caladofernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-62689779265916719572010-05-14T22:00:00.001-07:002010-05-14T22:23:31.496-07:00Ambos na mesma embarcaçãoDê, dê que eu já vi e agora não vejo<br />
<br />
A miséria está a paredes-meias com a fartura;<br />
a arte a paredes-meias com a esterqueira;<br />
o começo a paredes-meias com o fim.<br />
As pedras sempre estiveram em mãos de alvenéus<br />
que nunca as souberam modelar.<br />
<br />
A humanidade como a vemos é um fiasco<br />
não funciona como parede incontestável.<br />
É tudo segundos terços e quartas esganadas<br />
quintas abarrotadas até ao fim das gerações<br />
sextas falidas e sábados de toscos sermões.<br />
<br />
Valha-nos os domingos à porta das igrejas.<br />
<br />
O médico-rico-pobre-artista-falhado pleiteia a esmola<br />
com o leigo-sempre-pobre-filho-e-pai-padrão.<br />
<br />
Dê, dê que eu nunca vi e tanto queria ver<br />
<br />
Antanho Esteve Calado ( Fernando Oliveira )fernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-84281739201549778142010-05-07T12:37:00.001-07:002010-05-07T12:37:17.016-07:00Dizem ou não dizem - aqui eu digoI<br />
Que um sábio nunca se transformará em – sabão<br />
Que a noz nunca nos pertence em absoluto<br />
Que o aflito anda sempre com o coração na mão<br />
E que o preto é a única cor de luto.<br />
II<br />
Que a bola de futebol é redonda<br />
Que o jogador que chuta mal tem o pé quadrado<br />
Que o mar nunca repete a mesma onda<br />
Que quando se morre só se pode ir deitado<br />
III<br />
Que a beleza de dentro é mais bonita que a de fora<br />
Que o cão é o melhor amigo do homem<br />
Que a saudade nunca se vai embora<br />
Que a barriga também se chama abdómen<br />
IV<br />
Diz-se muita coisa como há coisas que não se diz<br />
Injuriar a sogra porque a filha não sabe cozinhar<br />
Matar um colibri e dizer à criança que é perdiz<br />
Roubar o babeiro desta para o nariz assoar.<br />
V<br />
O mentiroso diz que não disse o que o outro diz<br />
Que era verdade que esteve tentado a dizer<br />
Que não era pecado arrancar a árvore pela raiz<br />
Malcriado era o outro que o estava a contradizer<br />
VI<br />
Diz-se que partir é morrer um pouco<br />
A louça que parte não morre – isso é corriqueiro<br />
Que quem se deita a afogar é chamado de louco<br />
Que quem modela o barro é apenas um louceiro<br />
VII<br />
Já me disseram para eu ter juízo na cabecinha<br />
Porque quem anda à chuva sempre se molha<br />
Para não sonhar acordado que faz mal à pinha<br />
E que não se verte vinho sem sacar da garrafa a rolha<br />
VIII<br />
Há quem diga que o ovo é filho e mãe da galinha<br />
Que o resto é parte duma coisa que sobra<br />
Que sou burro se entregar a carteira que não é minha<br />
E que o perverso é mais mau do que uma cobra<br />
IX<br />
Que o gato tem sete vidas e a raposa é manhosa<br />
Diz-se de Eva que comeu maçã com sportinguista (lagarto)<br />
Que o cavalo é majestoso e a ovelha é ranhosa<br />
Que quem sobe a montanha é um alto alpinista <br />
X<br />
Dizem que quem tem muitos filhos é pobre<br />
Que uma igreja pequena se chama capela<br />
Também se diz que quem tem cavalo é nobre<br />
E que quem não tem porta entra e sai pela janela.<br />
XI<br />
Dizem que o poeta pode usar todos os superlativos<br />
Se não insultar a menos santa virgem do céu<br />
Que tudo o que escreve vai para a coluna dos activos<br />
E a coluna do deve fica à espera - branca como o véu<br />
XII<br />
Dirão que para dizer o que disse mais valia ficar calado<br />
Que não fique nervoso e que mantenha a calma<br />
Que a escrever assim nunca vou a nenhum lado<br />
E eu digo que só digo o que me vai na alma.<br />
<br />
XII verdades quadradas que também podem ser esquinadas <br />
<br />
Antanho Esteve Calado (Fernando Oliveira)fernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-1958304897605088792010-04-24T16:40:00.000-07:002010-04-24T16:40:07.692-07:00Foi num belo dia de AbrilFoi agora e já era quase tarde<br />
Que amanheceu o passarinho<br />
Troteando zunzuns de liberdade<br />
E o homem transpôs o ninho.<br />
<br />
Era tempo mas só foi agora<br />
Que um povo cheirou o lírio<br />
Tanto tempo tanta demora<br />
Tanta gaiola tanto martírio.<br />
<br />
Que ele quase bico não tinha<br />
De tanto coçar a infelicidade<br />
Heróis vestidos de carapinha <br />
Expulsaram os reis da cidade.<br />
<br />
Foi agora mas ainda a tempo<br />
Que um povo passeou na rua<br />
Com olhos de contentamento<br />
Da pátria que volvera sua.<br />
<br />
Era tempo e o tempo era senil<br />
De sovar a insígnia ditatorial<br />
E foi neste lindo dia de Abril<br />
Que de novo nasceu Portugal.<br />
<br />
Antanho Esteve Calado ( Fernando Oliveira )<br />
<br />
“O autor exilado em Paris desde 1969”fernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-37522055071758618702009-03-28T19:56:00.001-07:002009-03-28T19:56:52.953-07:00Além e aquém da península IbéricaAlém fronteiras é tudo menos ibérico <br /> <br />O indivíduo elaborou modernidade <br />Mas ficou infecundo nas relações da cidade <br />Criou tesouros de cultura arquitectónica <br />Mas ficou com a garganta afónica <br />Espalhou tesouros orçamentais <br />E esganou os laços comportamentais <br /> <br />É utilitário, maquinal e escolástico <br />Não possui a seiva louca do elástico <br />É abatido quanto a lâmina de aço <br />Possui a razão além do seu próprio espaço <br />Vive num salão desenxovalhado e comodista <br />É filosofo maior, arrogante artista. <br /><br />Aquém é da Europa, apêndice periférico <br /><br />O indivíduo ocultou o modernismo <br />Explodiu na relação banhado de arcaísmo <br />Criou rios de risos e olhares altruístas <br />Cadernos de letras fixas nacionalistas <br />Bombeou o torso de cores medievais <br />E dançou lábias nos morenos arraiais <br /> <br />É expansivo, original e cabalista <br />Possui o mais sólido ocidente bairrista <br />É trigueiro, quanto o avoengo era celta <br />Tem uma língua trivial afiada e esbelta <br />Vive no adro da igreja, oferta abraços pios <br />É fado menor, mas sabe aceitar desafios <br /> <br />Antanho Esteve Caladofernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com22tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-89902336099744413392009-03-01T17:04:00.000-08:002009-03-01T17:05:20.999-08:00O muro dos sorrisosAquém eu sorrio, mas os meus sorrisos batem no muro <br />e querem voltar para a bodega de onde saíram. <br /> <br />Além estão os destinatários, com outras bocas <br />que me enviam sorrisos, que batem no muro <br />e querem voltar para as bodegas de onde saíram. <br /> <br />Em cima do muro, está um casal cativado <br />que recolhe todos os sorrisos <br />e os semeia em ambos lados.<br /> <br />Antanho Esteve Caladofernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-48376280379002979832009-02-23T20:58:00.000-08:002009-02-23T20:59:05.490-08:00PontuaçõesHá outras gentes perto de mim,<br />que não sei quem são.<br /><br />Brincam.<br />Choramingam.<br />Amam. <br />E talvez morram...<br /><br />Morrerão?!<br />Porque sempre ali estão...<br />Então...<br />Serão sempre os mesmos?<br /><br />Não sei por que ali estão!<br />Se acolhem o mesmo vento, o mesmo sol, a mesma idade<br />Que eu.<br />E não sei quem são...<br /><br />Humanos são. Pois correm como eu<br />quando a chuva abusa.<br /><br />A sociedade hodierna <br />Contém; e, cunha conforme avança<br />E eu nada vejo...<br />Que gentes quase iguais<br />Perto de mim<br />E não sei quem são!...<br /><br />De inicio ao fim, nada soube deles<br />E eles souberam!<br />Que eu existi?<br /><br />Antanho Esteve Caladofernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-23778703769356350962009-02-20T21:46:00.000-08:002009-02-20T21:47:34.700-08:00Deixem que ele sejaRecolham as vossas estórias - laudas pré-pós-armadas.<br /><br />Enterrem-nas, nos mais profundo da vossa lembrança – que lá fiquem geladas. <br /><br />Deixem respirar a ideia da terra homem. <br /> <br />Espalhem nos mares que enlouqueceram,<br />os pergaminhos engomados de ouro velho.<br /><br />Recolham o sangue puro que derreteram <br />e, <br />refaçam os desfeitos, esvaziados de atrevimento,<br />de aragem, de selo. <br />Lavem todas as cores maculadas <br />e, <br />repintem os corpos cozidos no sal da vossa cupidez.<br /><br />Deixem que tudo seja cor, cor e cor <br />e, <br />se mais não houvera, ainda cor. <br />Aquela cor natural que designa o homem encharcado de liberdade. <br /><br />Não cor de cor, nem cor de terra.<br />Não cor de raça, mas cor da animalidade magoada pelos peitos estocados pelas vossas bandeiras. <br /><br />Não fico pasmado diante dos vossos feitos<br />nem me interessam as vossas fronteiras.<br /><br />- Gosto ou desgosto da vossa cultura <br />Adoro ou detesto a vossa língua<br />Mais nunca morrerei de míngua<br />Nem mais aceitarei qualquer tortura –<br /><br />Recolham os vossos feitos – estou disposto a vos absolver<br />Soltem o homem agora, não mais tarde, <br />agora.<br /><br />Deixando-o viver sem cor, na cor que ele desejar, <br />na terra dele.<br /><br />Deixem que ele seja...<br /><br />Desfaçam estórias e geografias.<br /><br />Antanho Esteve Caladofernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-63412178591841061292009-02-11T11:47:00.000-08:002009-02-11T11:48:07.921-08:00Tratos e maltratosMercadejei o meu coirão nos mais diversos cantos do mundo<br /><br />Proletário indistinto e vagabundo<br />Minguado na escudela e nos relatórios<br />No estaleiro, na granja, nos escritórios<br /><br />Vendi o meu suor, como a prostituta vende o seu favor<br />Da Europa ocidental até à Europa maior<br />Da Ásia superior até à África de cor<br /><br />Foi no meu pais onde fui mais maltratado<br />Descontos salariais guardados em bolso furado<br />Levam-me a estancar o meu desejo de aposentação<br /><br />Terei talvez merecido descanso quando estiver no caixão<br /><br />Antanho Esteve Caladofernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-90012700875644721192009-02-05T16:53:00.000-08:002009-02-05T16:56:04.098-08:00Ao homem da sua origemSe te estorvar a invenção, como a raça <br />E nela não encontrares que tu, em migalhas <br />Escreve ao mandão, com veio de rechaça <br />Arguindo, porque te ofereceu só palhas <br /> <br />Qual que for o teu colorido, é sumptuoso <br />Não calcules os confins onde te espalhas <br />Que seja branco ou negro, fica orgulhoso <br />Mas tem cuidado, com alguns canalhas <br /> <br />Que te querem rifar. com pinças de mutismo <br />Se não trilhares, as pistas que traçaram <br />Que vão do estiolo, ao puro nacionalismo <br /> <br />Regenera sempre, a palavra humanidade <br />Guarda o nome que teus pais exclamaram <br />Antes do país e da raça, apenas liberdade <br /> <br />Antanho Esteve Caladofernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-65627926104407558662009-02-03T18:32:00.000-08:002009-02-03T18:33:09.344-08:00Ensopado de pátrias com carnes à borlaResolutos e cobardes dialogaram com armas<br />flamejaram estalidos nos arraiais de ninguém<br /><br />Rugidos <br />fanfarronices <br />insultos e debandadas<br /><br />Maiorais altaneiros dessecam o suor da partida<br /><br />Dizimada a frente <br />um montão na retaguarda<br />rouba o último espaço de recuo <br />triste escudo<br /><br />A bandeira carregada de gritos não esvoaça <br />o estafeta estrangula o juramento <br />descamba<br /><br />As vidas ardem <br />como castanhas assanhadas<br />nas clareiras <br />feias lareiras de homens lenho<br /><br />De repente <br />um armistício invade a contenda<br /><br />As pátrias empataram <br />os homens perderam<br /><br />A pomba da paz arrastou a única asa válida<br />e o fumo do charuto cauterizou os defuntos<br /><br />Cobardes e resolutos dialogaram sem armas<br /><br />Que vale o choro da mãe <br />se a pátria caçoa.<br /><br />Antanho Esteve Caladofernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-2780046900155585562009-01-31T18:42:00.000-08:002009-01-31T18:43:29.438-08:00A cada um a sua telha!...Teilhard de Chardin, diz!… <br />Somos envelopes espirituais<br /><br />Eu digo!… <br />Somos animais sofisticados<br /><br />Teilhard de Chardin, diz!… <br /><br />Não!... <br />Somos envelopes carnais<br /><br />Eu digo!… <br />Somos figurinos desenhados<br /><br />Se ele disser o seu adágio, eu direi o seu contrário<br />Se ele disser o seu anverso, eu direi o meu reverso<br />Nenhum de nós levará <br />algum beneficio moral ou erário<br /><br />Mas os dois ganharemos, no anfibológico controverso <br /><br />Antanho Esteve Caladofernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-34867082510593732302009-01-26T17:02:00.000-08:002009-01-31T18:18:03.657-08:00AntevisãoNas ruas imaginárias duma cidade inexistente<br />Pisando as pedras velhas dum passado outrora crente<br />Jovens deuses deambulam no futuro da sua existência<br />Vestidos de homens respiram a decadência<br /><br />Nas águas turvadas por essências irreais<br />Imagens pardas dum passado de mortais<br />Deslizam ocas e riem sem piedade<br />Gritando ao vento mensagens de saudade<br /><br />Na noite eterna sem crepúsculo e sem aurora<br />Passeiam almas inocentes que outrora<br />Vidas plenas felizes ou desgraçadas<br />Se transformaram em fantasmas às manadas<br /><br />Agarradas às árvores calcinadas tais espectros em paisagem de sonho<br />Vozes primitivamente quentes perdem-se no horizonte medonho<br />O próprio vento que se quisera de saudade<br />Uiva de dor nas encostas da cidade<br /><br />Antanho Esteve Caladofernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-764601169261190922.post-10988959195802035402009-01-26T14:23:00.001-08:002009-01-28T21:07:40.584-08:00A besta acordou o homemO homem levanta a mão prestes a abater-se sobre a mulher<br />Esta olha a mão pesada, nela nada sabe ler, suplica consenso<br />Será ferimento ou morte? O que o gesto vai trazer<br />A violência abate-se e a interrogação fica em suspenso<br /><br />Nenhum lamento sai da sua garganta, só um ríctus de tristeza e um esgar de estupor<br />E o sangue que brota da boca outrora bela e desejada<br />Os olhos tacanhos requerem uma pausa ao agressor<br />Mas o bruto repele o mendigar da sua amada<br /><br />A mulher sente um frio triste de criança, abandonada pela defesa<br />Num gesto natural anicha-se no chão na postura do embrião<br />Renuncia no canto, que pensa ser o seio matricial, aos trunfos que lhe deve a natureza<br />E abandona-se ao furor daquele que lhe ganhara o coração<br /><br />As mãos aproximam-se como tenazes, para extraírem do rosto os restos de vida<br />A mulher já não é, senão uma criatura regressiva<br />No olhar vazio de futuros, desfilam extractos dos tempos de ternura<br />Natureza morta, cobaia de artistas adormecidos, em tela caída<br />Braços dormentes, que cobrem ainda uma cabeleira expressiva<br />Boca despida de gritos, de lábios derribados pela tortura...<br /><br />As pancadas caiem cadenciadas, o esposo é um animal feroz<br />Até que o cérebro da infeliz mais não possa resistir<br />A algazarra retira-se, poisa-se no silêncio dos rameiros<br />Uma música medonha sai das entranhas do algoz<br />As bestas agoiram nos restolhos, o tempo suspende o seu porvir<br />E as flores retraem-se medrosas, murcham-se nos canteiros<br /><br />O homem apagou a união sagrada, os estatutos sociais já não valem nada<br />Os contratos arderam na exaltação da animalidade ressurgida<br />Os sociólogos fazem resumos, os poetas fogem pela calada<br />E as seitas filosofadas fazem analises e fotografam a vida destruída<br /><br />O homem olha as mãos assassinas outrora ninhos de afago<br />Mãos que riscaram o amor num quadro desolado de agrura<br />De gestos irracionais que expungiram uma vida num trago<br />Que nasceram da razão e acabaram na loucura<br /><br />O homem não mais será bem-vindo à cidade da tolerância<br />Para seu castigo verá no fundo do seu poiso, estúpido e nauseabundo<br />O filme dum amor terno nascido em bela infância<br />Até que a misericórdia o retire deste mundo<br /><br />Antanho Esteve Caladofernando oliveirahttp://www.blogger.com/profile/11528889551883257501noreply@blogger.com0